Nossa entrevista de hoje é com o árbitro internacional de badminton Cassio Toledo, um dos mais experientes árbitros brasileiros. Agradecemos ao Cassio pela atenção, como sempre sereno e correto em suas colocações. Leiam e aprendam um pouco sobre arbitragem no badminton e sua importância. Aliás, concordo plenamente com a frase dele a respeito da importância da arbitragem para o desenvolvimento do badminton no Brasil.

Explique um pouco sobre a arbitragem no badminton, já que temos leitores que ainda não conhecem bem o esporte. Quantos árbitros/juízes são e qual a função de cada um?

Uma partida oficial de badminton deveria ter 12 pessoas trabalhando: 1 árbitro principal, 1 árbitro de serviço (só se manifesta sobre alguma falta cometida pelo servidor), 2 linhas (um em cada quadra) na linha de serviço, 2 linhas para as linhas de fundo, 4 linhas (2 em cada lado em cada metade da quadra) para as linhas laterais e 2 linhas para a linha central de serviço; os linhas só se manifestam se a peteca cair dentro (indicando com a mão) ou fora (gritando OUT e abrindo os braços).

Se considerarmos que, devido às limitações financeiras para termos todas as posições preenchidas, nossos árbitros na maioria das vezes arbitram sozinhos em quadra, acredito que os mesmos vêm fazendo um excelente trabalho.

O que é necessário para ser um bom árbitro de badminton?

Conhecer as regras, ser imparcial, seguro, saber que pode cometer enganos, e, acima de tudo, discreto. Quanto melhor o árbitro, menos você o percebe.

Sempre digo que, quando saio de casa para arbitrar ou ser referee de um torneio, só tenho uma certeza, a de que vou cometer algum engano. O importante é ter a consciência tranquila de saber que nunca se está agindo de má fé, mas errar é humano.

Desde quando você está no badminton e há quanto tempo é árbitro?

Meus pais jogavam badminton antes do meu nascimento e sempre tive contato com o esporte. Comecei a tentar ajudar na arbitragem em 2004 e logo virei árbitro nacional e, no Pan-americano de 2006, em Campinas, tornei-me árbitro da Panam. Em 2008, no Pan-americano juvenil da Guatemala, fui Deputy Referee e passei a fazer parte do quadro de Referees da Panam, já tendo organizado torneios nos seguintes países: Brasil, Peru, Colômbia, Suriname, Venezuela, Guatemala, México, EUA, Canadá, Porto Rico, Republica Dominicana, Cuba e Barbados, além cursos de arbitragem na Colômbia e República Dominicana.

Fale um pouco sobre sua função atualmente no badminton brasileiro, inclusive na parte de capacitação.

Hoje, venho atuando na parte organizacional dos torneios junto ao Hilton Fernando. Recebo as inscrições, faço a separação por idades, faço o ranqueamento dos atletas, preparo os sorteios das chaves, realizo os sorteios (sempre abertos a quem quiser acompanhar), organizo os horários dos jogos, tentando fazer os torneios menos cansativos para os atletas, atuo como referee nas etapas nacionais e depois atualizo os rankings nacionais com os resultados do torneio.

Venho atuando também na capacitação de novos árbitros no território nacional, levando um pouco de minha experiência aos futuros árbitros. Esta troca de informações é muito importante e ajuda muito na formação deles.

Como está o nível da arbitragem brasileira?

No meu entender, o Brasil, hoje, tem uma arbitragem de 1º mundo. Atuo como referee em vários torneios nas Américas e tenho certeza de que nossos árbitros estão entre os melhores. Teremos este ano a oportunidade de credenciar mais 2 árbitros Pan-americanos.

No âmbito nacional, estamos trabalhando há anos para formar uma equipe sem estrelismo, onde todos se ajudam, todos sabem da importância de seu trabalho e a ele se dedicam integralmente. Tentamos fazer um rodizio, trazendo sempre árbitros iniciantes para trabalhar junto aos mais antigos para irem se aperfeiçoando e, graças a Deus, temos atingido nosso objetivo. Gostaria de parabenizar todos deste grupo pois a organização de um torneio é muito tensa e o quesito arbitragem tem nos dado muito sossego.

Quantos árbitros oficiais temos hoje no Brasil? Quantos são árbitros internacionais?

Nacionais 48, Internacionais 5.

Qual a importância de uma arbitragem de alto nível para o desenvolvimento do badminton no Brasil?

Acredito que a arbitragem correta eleva o nível do torneio e torneios melhores elevam o nível dos jogadores.

Gostaria de mostrar um exemplo simples: Os jogadores brasileiros tinham o hábito de jogar com petecas muito lentas. Sempre reclamavam da velocidade das petecas nos torneios internacionais. Quando comecei a atuar como referee percebi esta tendência (de deixar as petecas um pouco mais rápidas) e passamos a usar petecas menos lentas nos torneios nacionais. Apesar de sempre haver (poucas) reclamações, nossos jogadores hoje não se queixam tanto quando vão a torneios fora.

A CBBd anunciou que pretende ter pelo menos um árbitro brasileiro atuando nos Jogos Olímpicos Rio 2016. Você acha que isto é possível? Que trabalho deve ser feito para que este objetivo seja atingido?

Sem dúvida que é possível. No último mês, o Hilton esteve arbitrando na Polônia e fez uma das finais em reconhecimento ao seu bom trabalho. Ele deve fazer mais torneios na Europa e Ásia ainda este ano e acredito que seja credenciado como árbitro da BWF (condição necessária para atuar nas olimpíadas).

A BWF anunciou recentemente o uso da tecnologia para revisão instantânea de algumas decisões da arbitragem. O que você pensa a respeito?

Penso que o esporte deve evoluir, sei que algumas petecas são impossíveis de serem marcadas devido à posição dos pés do jogador e velocidade da jogada e acredito que, nestes lances, os equipamentos possam ajudar, mas também sei que, devido aos custos, estes recursos só poderão ser usados nos grandes torneios. Na nossa realidade, o árbitro vai continuar sendo a última palavra e continuaremos a trabalhar para dar aos jogadores tranquilidade para fazer o que sabem: Jogar.

Você considera importante que os atletas conheçam as regras e tenham também cursos ou orientações sobre o assunto?

Acho fundamental. É muito estranho um jogador de alto nível entrar em uma discussão e usar argumentos que mostram claramente o desconhecimento de regras básicas do esporte que pratica.

Para adquirir este conhecimento, os jogadores deveriam participar de cursos de arbitragem e com certeza aprenderiam muito. Há alguns anos, estive no mesmo hotel de uma seleção brasileira e me prontifiquei a ter uma conversa com os jogadores sobre arbitragem, acabou não acontecendo, mas mantemos a esperança de que um dia isso vá ocorrer.

Fonte Redes sociais